O JÚBILO DE QUEM AMA
10 de Junho de 2009

 
 

 

  

 

Albert Schweitzer possuía um fantástico sentimento de solidariedade que lhe permitiu sentir a aflição dos outros. Chegando ao apogeu de sua carreira, parecia-lhe inconcebível a idéía de aceitar uma vida feliz e amena enquanto em volta de si muitos gemiam e sofriam. Foi numa manhã de verão de 1896, em Günsbach, que a alma de Schweitzer decidiu colocar-se a serviço dos outros. Perseguia-o as Palavras de Jesus: “Quem quer possuir a vida, perdê-la-á; quem por amor de Mim a perder, este a possuirá”.
 
Albert Schweitzer, por volta dos trinta anos, já tinha publicado um opúsculo sobre Eugen Münch, uma tese sobre a vida de Jesus, um estudo sobre a filosofia de Emanuel Kant, duas obras de vulto, uma em francês e outra em alemão, sobre J.S.Bach, e finalmente um livro sobre “A arte de construir órgãos e a arte de tocá-los”. Mas apesar de todos os seus altos estudos, Albert Schweitzer, sentia que, como homem civilizado, filho da região que bem podia ser apontada como centro de gravidade da cultura européia, ele sabia melhor do que ninguém que um livro bem feito é uma bênção para todos; sabia que a Teologia deve ser ensinada com competência; que a música de Bach deve ser bem compreendida e que os órgãos devem ser esmeradamente construídos. Alguma coisa dentro dele lhe dizia agora, na esquina dos trinta anos, que todos aqueles primores são vãos se o mundo não é fraterno. A impaciência de seu coração pedia obra mais direta.
 
Não distinguia bem qual seria a obra para a sua vida. Pensou primeiro em alguma atividade realizada na própria Europa; acolher crianças abandonadas com o objetivo de elas serem educadas com o mesmo ideal e ele procuraria obter delas o compromisso de mais tarde ajudarem outras crianças. Quando em 1903, passou a ocupar a direção do Instituto Teológico, ofereceu seus serviços, baseados nesta proposta e não obteve êxito. As organizações existentes de socorro à infância abandonada desconfiavam da perseverança do voluntário que se oferecia. Por incrível que pareça, mesmo após o incêndio do Orfanato de Estrasburgo, sua oferta de acolher provisoriamente algumas crianças não foi atendida.
 
Depois do insucesso da primeira atividade assistencial, ingressou num movimento organizado pelo pároco August Ernest, de Santo Tomás, que consistia em ajudar moradores de rua e ex-condenados, a fim de levá-los para o convívio, para a comunhão dos homens. Algumas vezes conseguiu prestar auxílio merecido e real, mas convenceu-se de que não era ainda esse o seu caminho.
 
Em 1904, Albert Schweitzer, encontrou um fascículo da Sociedade Missionária de Paris, folheando-o, seus olhos depararam com um título de um artigo: “As Necessidades da Missão do Congo” . E de repente, como se um relâmpago iluminasse a alma, Schweitzer tomou para si o chamado “A Igreja precisa de homens que respondam logo ao chamado do Senhor com estas palavras: Eis-me aqui, Senhor”. A partir deste momento Schweitzer tomou a resolução; ser médico na Missão africana.
 
“No dia 13 de outubro de 1905, uma sexta-feira, em Paris, coloqueis várias cartas numa caixa postal da Avenue de La Grande Armée, comunicando a meus pais, e alguns amigos mais próximos, a resolução de iniciar os estudos de medicina no princípio do semestre de inverno, para trabalhar como médico na África Equatorial. Numa das cartas, alegando a necessidade de me dedicar aos novos estudos, pedia demissão do meu cargo de diretor do Instituto Teológico de São Tomás”. Assim nos conta o próprio Albert Schweitzer em sua autobiografia.
 
Foi uma surpresa para todos, a decisão tomada por Albert. Seus amigos levantaram uma onda de protestos e recriminações, e o reitor e demais professores da Universidade de Estrasburgo balançavam a cabeça quando aludia ao caso. Uma das suas dificuldades foi a volta aos bancos escolares aos trinta e tantos anos, entre rapazes de dezoito. É fácil imaginar o isolamento em que viveu e certamente não faltaram gracejos, ironias, dirigidos pelos rapazes àquele homenzarrão taciturno e obstinado.
 
Seis anos! Durante esse período ele continuava realizando concertos e conferências em Paris. A sua relação de amizade com Helena Bresslau era mais freqüente e cada vez mais descobria a apatia que sentiam um pelo outro. Nesse tempo ela estudava enfermagem.
 
Formado em Medicina, Schweitzer achou ainda indispensável seguir em Paris um curso intensivo sobre doenças tropicais; e nesse meio tempo começou a angariar fundos para um hospital que sonhava construir em Lambarene, nas margens do rio Ogooue. Não procurou nenhum subsídio proveniente de qualquer instituição, nem quis nenhum auxílio do Estado. Queria realizar seu trabalho com absoluta independência, livre de compromissos e principalmente livre de qualquer ligação com a burocracia estatal. Recorreu a amigos, bateu em todas as portas, e antes de iniciar a aquisição do material necessário, tratou de obter o apoio e a permissão da Sociedade Missionária de Paris.
 
Antes de deixar a Europa, o Dr. Schweitzer apresentou sua tese, em que a Medicina e a Teologia se entrelaçavam: “Estudo psiquiátrico de Jesus. Exposição e crítica”
 

Em 1913 o Dr. Schweitzer casou-se com Helèné. E logo após, num domingo de Páscoa, os recém-casados embarcam no vapor “Europa”, em Bordéus, com destino à África Equatorial
(Gabão), onde construiu, nas margens do rio Ogoué, um hospital para doenças tropicais e a clínica para leprosos Lambaréné, que desenvolvia uma intensa atividade médica e missionária.

 

 

 

 

 Durante a Primeira Guerra Mundial, foi encarcerado pelas tropas francesas e, em 1924, regressou a Lambaréné. Recorrendo a conferências, a concertos de órgão (era um especialista em Bach) e aos dividendos obtidos com seus livros, conseguiu financiar as instalações. Schweitzer tornou-se uma figura lendária devido a sua atividade solitária. No campo teológico, dedicou-se à investigação sobre a vida de Jesus. Em 1951, recebeu o Prêmio da Paz outorgado pelos livreiros alemães e, em 1952, o Prêmio Nobel da Paz.

Em 1958 ele fez apelos na Rádio de Oslo para o abandono de testes nucleares. Durante toda sua vida, Schweitzer escreveu vários livros, dentre eles The Philosophy of Civilization, The Mystery of the Kingdom of God e Out of My Life and Thought, que consiste na sua autobiografia. Seu estudo Reverence for Life apresenta os fundamentos para o pensamento bioético.

 

 

 

Schweitzer morreu em quatro de setembro de 1965, em Lambarené.

 

 

 

Fonte: Schoolmaster- Enciclopédia de Pesquisas-Grandes vocações.

 

 

 

 

 

 

 

publicado por cleudf às 20:29 link do post
sinto-me: Feliz com Jesus
música: Clássica - Bach
04 de Junho de 2009

 

Desde a primeira infância, revelou-se a alma religiosa de Albert Schweitzer. O ambiente familiar e a tradição de duas ou três gerações vieram ao encontro do pendor natural e dos dons de Deus, e assim, sem hesitações, sem conflitos, a vida do menino se orientou desde cedo para o serviço religioso. Albert cresceu ouvindo na igreja os sermões de seu pai, e em casa, diariamente, conversas intermináveis sobre os evangelhos, histórias de missionários, entre as quais teve particular ressonância em seu coração a do alsaciano Casalis, que deixara todo o conforto europeu para ensinar os evangelhos aos negros africanos.

 

O ano de 1893, quando contava dezoito anos de idade, foi decisivo e rico em experiências. Numa viagem a Paris, teve o primeiro contato com Charles-Marie Widor, grande compositor e organista francês, ao qual ficará ligado por laços de gratidão e admiração para o resto da vida. Em outubro do mesmo ano conseguiu admissão no Colégio de Teologia de São Tomás, da Universidade de Estrasburgo. E é aí, nesse centro de intensa cultura, e na viagem que de vez em quando fará a Paris, que se desenvolve a vida cultural e religiosa de Albert Schweitzer. Nessa grande e famosa Universidade o tempo e as atividades do jovem Albert dividiam-se entre a Teologia, a Filosofia e a Música. Cada aluno do Colégio de São Tomás dispunha de um pequeno aposento, mobiliado com simplicidade e conforto, com uma janela aberta para o jardim. Por causa de seu talento já reconhecido, Albert dispunha de um órgão e de uma grande biblioteca de livros raros e preciosos que ele podia usar como se fossem seus. No seu quarto de estudante, Albert Schweitzer pendurou um quadro com as seguintes estrofes de uma canção, que até hoje estão no seu escritório em Günsbach, e que exprimem bem a norma de sua vida:

 

Toujours plus haut

Place on revê ou ton désir

L’idéal que tu veux server

Toujours plus haut!

 

Toujours plus haut!

Si, bien souvent, ton ciel se voile,

Que de ta foi brille l’étoile,

Toujours plus haut!

 

 

 

 

 

 

Em sua autobiografia, conta que teve certa dificuldade no estudo do hebraico, conseguindo no exame feito em fevereiro de 1894 uma penosa aprovação. Mas a deficiência que sentia da língua hebraica não o impedia de acompanhar com interesse o ciclo de aulas dadas por Heinrich Julius Holtzmann sobre os evangelhos de Mateus, Lucas e Marcos, chamados sinópticos.

A partir do dia 1º de abril de 1894 teve de fazer seu serviço militar. No outono do mesmo ano, tendo de partir para as manobras militares da região  de Hochfeldern, na Alsácia Inferior, enfiou na mochila o Novo Testamento, em grego, disposto a estudar a fundo os tais evangelhos sinópticos nas horas de folga.

Em 1896, teve a felicidade de assistir em Bayreuth, no famoso teatro construído sob indicações do próprio Wagner, à primeira reapresentação da coleção de óperas (tetralogia) cuja estréia datava de 1876. E foi no grupo de amigos dessa época e dessa excursão musical que conheceu Helena Bresslau, filha de um conhecido historiador e moça de gostos e paixões muito parecidas com as de Albert. Nessa época, aos vinte e um anos, Albert era um reputado organista e já se ia tornando um famoso teólogo e hmanista. Em 1898 terminou o curso na Universidade de Estrasburgo, ganhando uma bolsa de 1.200 marcos por ano, que lhe permitiu deslocar-se para Paris, onde passou a freqüentar cursos de Filosofia na Sorbone, e cursos de órgão com o mestre francês Widor. Sua vida cultural doravante oscilará entre Paris, Estrasburgo e Berlim. Esta alma tipicamente internacional realiza em si a pacífica fusão das culturas francesa e alemã. Em Paris se liga com Romain Roland, que seria seu grande amigo em tempo e contratempo; em Berlim entra em contato com a obra grandiosa de Goethe, sobre a qual escrevera mais tarde um estudo com que ganhara um dos mais cobiçados prêmios da Europa. Mas é em Estrasburgo que pretende firmar-se como professor.

Em março de 1902, na Faculdade de Teologia de Estrasburgo, pronunciou uma aula inaugural sobre o Prólogo do Evangelho de São João, e logo depois foi nomeado diretor do seminário protestante. Parecia chegar ao termo de suas ascensões a vida de Albert Schweitzer. Que mais poderia desejar? Que cargo mais alto e mais honroso podia pretender naquele tempo e naquele mundo europeu, um homem que amava a Bíblia, a Música e de um modo geral a cultura?

Lá na parede de seu aposento, entretanto, brilhavam aquelas estrofes:

                           Toujours plus haut! (Sempre mais alto)

O coração de Albert Schweitzer, nessa época de realizações, falava-lhe de outros modos de subir... ou melhor, gemia: “Minha mocidade correu particularmente feliz. Eu me sentia esmagado... e a mim mesmo perguntava se tinha direito...”

No seu coração ruminava uma idéia que só brota, floresce e frutifica nos corações generosos. A idéia que o Apostolo Paulo exprimiu neste fragmento: “Há mais alegria em dar do que em receber.”(Atos 20:35). Albert Schweitzer sentia o bem estar e o triunfo da carreira como quem sente o peso de um tesouro que lhe fora confiado, não para o seu próprio proveito, mas para o bem dos outros. Chegava aos trinta anos com um grande cabedal e agora se sentia no começo de uma vida nova. Tornou a encontrar Helena Bresslau, que também desejava consagrar-se a alguma obra para o bem dos outros. Conversavam muito de música, de teologia, de filosofia e literatura; mas certamente quando se calavam as bocas, os dois corações em uníssono continuavam a cantar:

 

                          “Toujours plus haut!

                            Toujours plus haut!”

 

Continua.

 

 

publicado por cleudf às 15:13 link do post
sinto-me: ANGUSTIADA, MAS Ñ DESESPERADA
música: SECRETAMENTE
30 de Maio de 2009

 

 

 

 

...Continuação

 

Infelizmente, o jovem professor de música de Albert, contrai numa epidemia, a febre tifóide, e morre na idade das esperanças, deixando seu discípulo profundamente magoado. Anos mais tarde, em 1898, o aluno agradecido escreve um pequeno livro de memórias intitulado “Eugen Münch”, e assim publica o seu primeiro livro. Nesse mesmo ano, graças à liberalidade do irmão mais velho de seu pai, instala-se em Paris e recebe lições do grande organista Charles-Marie Widor, que faz de Albert um exímio organista logo conhecido em toda a Europa.

Paralelamente à formação musical, o menino Albert passou a freqüentar a escola primária de Günsbach, onde não foi aluno brilhante. Um dia, os companheiros vieram dizer-lhe que o inspetor, de visita à escola, chamava-se Steinert, e isto causou-lhe profunda impressão, porque já tinha visto aquele nome, com todas as letras de ouro, no dorso de um livro. E livro, para o pequeno Albert criado num ambiente de estudo e leitura da Bíblia, era uma coisa sagrada. Por isso admirava-se de ver, em carne e osso, um homem que tinha o nome gravado na lombada de um livro.

Essa paixão pelo livro e pela leitura acompanhou-o sempre e cresceu com a idade. Quando ingressou na escola secundária de Münster, preparando-se para entrar no Ginásio de Mulhose, teve de deixar a casa paterna e foi morar com seu padrinho e tio-avô Luís Schweitzer, que o recebeu com bondade, mas também com o exemplo de uma austera disciplina. Muitas vezes o gosto entusiástico pela leitura criou dificuldades em casa do padrinho, que não vi com bons olhos a mania que o rapaz tinha de passar a noite com vela acesa sem conseguir fechar o livro começado.

 

Não foi bom aluno nos primeiros tempos do Ginásio. Entrara mal preparado e, além disso, era inclinado ao que ele mesmo chamou de “indolências e devaneios”. O fato é que não conseguia ajustar-se, sentir-se bem no curso, e já quase desanimava quando teve a felicidade de encontrar, no terceiro ano, o professor Dr. Welmann, que soube orientar seus estudos e devolver-lhe a confiança em si mesmo. Mas a melhor lição do Dr. Welmann foi dada, por assim dizer, sem que ele soubesse o que estava fazendo. Foi a lição de exemplo. O menino Albert observou que o professor preparava meticulosamente, cada uma de suas aulas. O aluno viu assim que o professor não era o que ele pensava e o que muita gente envelhece pensando: Uma torneira que se abre no início da aula e se fecha no fim. O estudante descobria que o professor era quem primeiro estudava. E como todas as sementes logo davam flores e frutos na alma daquele menino, nasceu-lhe logo a consciência de uma obrigação.

 

 

O bom exemplo de Dr. Welmann despertou na alma do jovem Albert a paixão exacerbada, talvez a maior ou a mais característica de sua vida: a do dever sobejamente cumprido, a da obra generosamente bem feita.

Todos sabem que é nos anos da infância e da primeira mocidade que se formam, como se fossem cristais definitivamente configurados, as tendências, os gostos, as idéias e convicções que constituem o caráter e a personalidade. Pensando na poderosa influência que a infância tem sobre o resto da vida, Machado de Assis, no seu modo especial de ver e de dizer as coisas, disse que “o menino é o pai do homem”. Convém, pois, observar com atenção os passos e o comportamento do menino Albert, se queremos entender os passos  mais largos e o comportamento do Dr. Schweitzer.

Albert Schweitzer foi uma criança extremamente sensível e muito tímida. Além disso, era imaginativo e dado a sonhos que lhe dificultavam a vida escolar. Um de seus pontos mais sensíveis era em referência à justiça e à equidade. Não gostava de levar vantagens e não suportava a idéia de ter algum privilégio, Não tolerava nada que ferisse o sentimento que tinha da igualdade dos homens. Houve episódios em sua vida que achamos tratar-se de esquisitices; ele não ia pra escola com sapatos de couro porque a maioria dos colegas usava tamancos; deixou de comer canja porque um coleguinha fez comentários a respeito; a mãe, ao sair às compras, quis dar-lhe uma boina, ele não aceitou a que estava na vitrine, exigiu uma bem modesta. De outra feita, chegou a apanhar uma surra do pai, para vestir um sobretudo confeccionado pelo alfaiate da aldeia. Usava-o em casa, mas recusava-se a sair com ele à rua. Esta atitude foi devido ao comentário do alfaiate que, no dia da última prova disse-lhe que aquele sobretudo dava ao menino Albert ares de fidalgo. Todas essas esquisitices eram sinais se uma fina sensibilidade moral e de um excepcional sentimento de justiça.

 

Continua...

 

 

publicado por cleudf às 15:31 link do post
música: DIO COMO TI AMO
sinto-me: Fortalecida pela graça de JESU
26 de Maio de 2009

 

 

 

Graças a Deus que, ainda, existem pessoas inseridas na linhagem do bem – os chamados homens célebres – que se destacam no fundo obscuras da humanidade comum. Eles deixam atrás de si uma obra, um feito, que parece tornar luminosamente explicados a razão de ser de sua vida. O homem, o qual nos referimos, veio ao mundo para nos ensinar o valor do homem comum, menos favorecido pela sociedade. Há homens célebres que se destacaram por façanhas guerreiras, e estão nas estátuas, ou nos quadros, nos livros de Histórias, pelas batalhas que ganharam; há outros, mais pacíficos, que ficaram famosos por alguma descoberta ou alguma invenção. ALBERT SCHWEITZER, depois de longos anos de vida ignorada, tornou-se conhecido no mundo inteiro pelos serviços prestados diretamente à parte mais humilde e mais escura daquela tal humanidade obscura e comum. Foi na África, como médico, enfermeiro, amigo e pai dos negros do Congo, que nosso homem ganhou o merecido renome.
 
Os leitores de hoje talvez não façam idéia exata do que era, há décadas atrás, um europeu em relação ao resto do mundo. Hoje, com a globalização, as nações menores e classificadas como emergentes, ganham dia a dia maior importância, e enviam seus representantes, e até mesmo seus governantes comparecem aos congressos, às assembléias em que se discutem problemas mundiais. Naquele tempo, porém, a situação era diferente. Os europeus tiravam grande orgulho do grau de civilização que haviam conquistado, e viam do alto e de forma arrogante o resto do mundo. Era bem verdade que estava na Europa, concentrada de um modo extraordinário, a cultura científica e técnica do mundo, e que, em conseqüência disso, estava concentrado o poder. Os europeus eram donos do mundo. Levaram aos outros países os imensos benefícios da civilização, mas também às vezes levavam à soberba e a avidez do lucro.
E dentro desta civilizada Europa, falaremos de um centro mais civilizado do que todo o resto do mundo europeu. Esse centro, esse foco de civilização, havia pelas margens do Reno, numa região que fosse francesa sendo também alemã, que estivesse a igual distância da clara Itália e da brumosa Inglaterra. Ora, era nessa região – na Alsácia, na vila chamada Günsbach, no vale de Münster – que vivia ALBERT SCHWEITZER . Apesar de ser um homem civilizado, prendado, não era dado a viagens, expedições, aventuras geográficas, ALBERT SCHWEITZER vivia atividades puramente espirituais e artísticas. Numa vida de requinte de cultura, passava as horas estudando Teologia, tocando no órgão música de Bach (que foi um dos mais fantásticos músicos que o mundo já teve) e explorando a fundo a obra de Goethe (um dos maiores escritores do seu tempo).
 
Foi nessa vida amena e requintada que em 1904, ALBERT SCHWEITZER resolveu deixar para ir cuidar dos pobres indígenas doentes da África equatorial. A sua decisão foi por um sentimento moral de obrigação e de dívida. Alguns homens da civilizada Europa teriam de pagar a dívida contraída pelo orgulho dos outros. ALBERT SCHWEITZER sentiu o chamado de Deus deduzindo que lhe cabia tal papel. O amor de Deus e do próximo tinha de se traduzir daquela forma. E é por isso que o homem, que era teólogo, músico e escritor, e que vivia na mais civilizada região do mundo, resolver se tornar servidor dos mais humildes homens da terra. As mãos do organista de Günsbach, fazia partos, operava hérnias, acariciavam crianças leprosas nas margens do rio Ogoouê.

 

 

 

ALBERT SCHWEITZER nasceu em 14 de janeiro de 1875 em Kaysersberg, pequenina e aprazível vida da Alta Alsácia, que desde a guerra franco-prussiana se achava sob domínio alemão, e mais tarde, depois da primeira guerra mundial (1914-1918), voltara a ser Província Francesa. Seu pai, Luís Schweitzer, era pastor protestante, e seu avô paterno fora mestre-escola e organista em Pfaffenhonfen, na Alsácia Inferior, e tivera três irmãos com o mesmo duplo ofício. Pelo lado de sua mãe Adélia, o avô Schillinger também fora organista e pastor protestante de Mühlbach, no vale do Münster.
 
Nascia assim Albert Schweitzer num ambiente em que se respirava teologia e música, e não de estranhar o interesse que o menino demonstrou, desde a tenra infância, pelo estudo da religião e pelo exercício no velho piano de cauda herdade do avô Schillinger.
 
Poucos anos depois do nascimento de Albert, a família muda-se para a cidade de Günsbach. No Vale do Münster, onde até hoje residem filhos e netos. E foi aí em Günsbach, na companhia de três irmãs e um irmão, que viveu uma infância muito rica em experiências profundas e muito modestas de recursos financeiros. Ele próprio, em sua autobiografia, diz que sua infância foi maravilhosamente feliz.
Desde os cinco anos iniciou-se Albert no estudo do piano com o rigor e a aplicação que as famílias daquele tempo davam aos trabalhos de educação. Aos sete já provocava a admiração da mestra ao tocar no harmônio, melodias com acompanhamento de sua invenção. Um ano mais tarde, quando ainda mal alcançava a pedaleira, começou a tocar órgão, e essa forma de música, que viera de tantas gerações sucessivas como uma espécie de gosto hereditária, foi uma das grandes paixões de Albert.
Contava apenas com nove anos de idade quando, primeira vez, com imensa emoção, substituiu o organista na hora do culto. Mas só por volta dos quinze anos é que encontrou um professor à altura dos seus dons. Foi em Mulhouse que Albert conheceu Eugen Münch, que acabava de cursar a Universidade Berlinense de Música. Com esse competente e entusiasta professor, Albert progride rapidamente e descobre maravilhado, a obra musical de JOHANN SEBASTIAN BACH, que se tornou uma grande e permanente paixão de sua vida (mais tarde veremos como Bach, apesar de ter vivido e morrido mais de 150 anos antes, ajudou o Dr. Albert Schweitzer a adquirir remédios para os seus pobres doentes africanos).
Continua...

 

 

 

 

 

publicado por cleudf às 00:43 link do post
sinto-me: Abatida, mas não destruida
música: Clássica
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